Procissão marítima
O que registamos neste título é a súmula do que fomos rememorando, ao longo dos dias desta Semana maior dos Lajenses, comparando-a de algum modo, com outras mais recentes…
Mas porque, cada vez mais, é difícil a comparação entre situações distintas, analisemos apenas a aceitação popular do que foi proposto no programa da Semana dos Baleeiros 2013 e aí consideramos, como muitos mais, que foi um extraordinário êxito.
Começando pelo novo local da Festa noturna; na manutenção da abertura da Semana na Matriz, com o Coral das Lajes do Pico; no “aperitivo” das Chamarritas nos primeiros dias da semana; continuando na aposta da sublime Noite de Fados (na Ermida de S. Pedro) – das melhores a que assistimos; na escolha criteriosa (a gosto de todas as camadas etárias) dos intérpretes dos espetáculos musicais de topo – 4ª, 6ª e sábado; filarmónicas e folclore; bandas locais; São Pedro a ajudar com noites cálidas e amenas; Igreja-Matriz repleta nas novenas e nas solenes celebrações eucarísticas com pregações apelativas à nova vivência cristã; Procissão comovente, como vem acontecendo há 130 anos, integrando vários movimentos e autoridades representativas da comunidade; Sermão da Pesqueira vibrante, assertivo, atualíssimo e interpelante duma nova missionação cristã; Provas náuticas a cumprir a tradição baleeira e milhares de gentes a invadir diariamente a vila das Lajes…
Esta foi a Semana de Lurdes (dos Baleeiros) que eu vivi.
Ouvidor P. Marco Martinho no sermão da Pesqueira
Mas há um saboroso naco de prosa do livro “ A moldura” de Conceição Maciel (2007) que, aqui há semanas, minha irmã Helena me facultou e que cito com a devida vénia e reza assim a páginas 71 e 72:
“Estamos na última semana de Agosto. O mar das baleias está cheio de velas brancas. Logo à noite um bote aceso, todo ele feito de luz estará suspenso na noite, sobre a baía, enquanto a música de um conjunto, já publicitado, se espalhará sobre as águas, como outrora o primeiro poema de amor de Manuel da Silveira. A silhueta da montanha desenhar-se-á no céu, delineando os contornos desta ilha mistério, eterna sereia de pedra, que a todos encanta e seduz com as suas estranhas melodias de pedra e mar, que com o seu estilete de fogo nos vai marcando, a todos, os que lhe pertencemos, como o pastor marca o seu rebanho. Quando a Senhora passar pelos botes, a Senhora vestida de branco com a sua faixa azul prendendo e pendente do vestido e parar para abençoar haverá um último baleeiro, no seu bote, expectante de emoção, que a abraçará com a corda do seu sentir, que tantas vezes o arrastou mar adentro, à procura de pão e tantas outras o amarrou à vida, por intercepção da Senhora. Só não se irá envolver quem não tiver coração, ao ver os olhos comovidos da Senhora, marejados de água, projectados nos olhos do velho baleeiro, onde cabem todos os oceanos, a abençoar um bote que há muito parou de balear, mas que ainda navega no coração do oceano e no coração do baleeiro. Montes de máquinas fotográficas e câmaras de filmar fixarão o momento para o espalhar pelo mundo, pela terra que continua a girar e a marcar tempos diferentes para cada faixa de vida. Entre eles estará um estrangeiro, um francês, que aqui veio parar e, por ironia do destino, encontrar-se com a Senhora, que no seu país, quis aparecer a uma menina, numa gruta. Ao longe, na ponta do pesqueiro, uma porta branca, onde estão escritos os nomes de todos os baleeiros, abre-se sobre o mar. Através dela podem ver-se tanto o mar como a montanha. Só depende do que os nossos olhos querem ver e da posição onde nos colocamos e se quisermos podemos ver muito mais.” (Fim de citação e sublinhados nossos)
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Imagem de N.S. de Lurdes no fim da Procissão
Magistral descrição emotiva do que hoje vivemos na Procissão de Nossa Senhora de Lurdes, na vila das Lajes. Bem-haja, Sra. professora Conceição Maciel porque soube de forma tão sublime descrever tanta emoção… mas não resisto a concluir este modesto texto com este comentário do Facebook: “Maria de Fátima Amaral - Sr. Rui Pedro Ávila, muito obrigado pelas fotos. Já quase não conheço ninguém (se calhar até conheço) pois os anos vão passando e as nossas alterações fisionómicas contribuem para tal, mas foi com muito agrado que vejo a nossa Lajes do Pico progredir, com gosto e nem parece a mesma. Ainda bem, para os que aí habitam, mas também para nós que de longe, sentimos esse júbilo, esse orgulho de Lajense. Nesta Semana dos Baleeiros, o meu desejo de umas festas brilhantes. Um abraço para todos os Lajenses que tem contribuído para o progresso da nossa Vila. Mais uma vez Obrigado!” E nós também agradecemos àqueles que sentem e vivem a nossa Terra, mesmo longe.
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